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terça-feira, 8 de novembro de 2011

A Origem da Rolha de Cortiça - Parte II


                     Em cultivos comerciais o sobreiro é plantado em consórcio com o pinheiro. As duas árvores são plantadas a uma distância pequena, favorecendo assim a competição entre ambos pela luz solar, estimulando o sobreiro a crescer de forma mais ereta. Após alguns anos os pinheiros são cortados e os sobreiros podem então crescer em diâmetro.
                    A extração ocorre entre os meses de maio e agosto (verão na Europa), sendo que a temperatura ideal situa-se entre 20 e 25ºC. A umidade ideal da cortiça para rolhas deve ser de 6% (de 4% a 8%). A estocagem das rolhas deve ser em ambiente com temperatura de até 25ºC e umidade de cerca de 60%. O fabricante Amorim recomenda que a compra de rolhas pelas vinícolas seja feita de forma planejada, para que não fiquem excedentes dentro da empresa, pois as condições de estocagem podem não ser ideais, prejudicando o vinho engarrafado com contaminações que podem ser evitadas.

                    As rolhas de cortiça para vinhos tranquilos podem ser marcadas a fogo ou com tinta alimentícia. As destinadas a vinhos espumantes e Champagnes são sempre marcadas a fogo. As rolhas de espumante tem um calibre maior, pois precisam resistir à pressão do líquido. Também por este motivo, são feitas de aglomerado de cortiça, com duas lâminas de cortiça natural que ficam em contato com o vinho. As rolhas de cortiça podem ser de diferentes categorias: natural, aglomerada, colmatada.

                    A tampa screw cap teve origem na Suíça, nos anos 1950. Atualmente é muito usada na Austrália, para vinhos de consumo rápido. Para vinhos premium, a rolha de cortiça natural é a preferida. A China, que tem forte influência francesa no quesito vinho, também prefere rolhas de cortiça natural.

Fonte das informações: palestra com o Grupo Amorim, ministrada no IFRS campus Bento Gonçalves

sábado, 5 de novembro de 2011

A Origem da Rolha de Cortiça - Parte I

                    O uso da cortiça, como a maioria das grandes descobertas, aconteceu por acaso. Grandes rolhas de cortiça eram usadas na antiguidade para fechar as ânforas de vinho. O monge Dom Pérignon, no século XVII, conseguiu manter as bolhas do Champagne ao utilizar rolhas de cortiça em vez das tampas de madeira e cânhamo usadas na sua época.
                    O sobreiro, árvore cuja casca é a cortiça, nasce em florestas espontâneas na Europa mediterrânea e na costa norte da África. Portugal é o maior produtor mundial. A primeira extração da casca dos sobreiros acontece quando a planta atinge cerca de 25 anos, mas o material extraído ainda não é adequado para as rolhas para vinho. Há uma segunda extração alguns anos depois, mas somente aos 40 anos a cortiça extraída pode ser utilizada em rolhas, pois neste momento a elasticidade e a umidade da casca de cortiça terão as características ideais.
                    É claro que o material das primeiras retiradas não é desperdiçado: há um enorme mercado para a cortiça, incluindo revestimentos na construção civil e peças automotivas.

Fonte das informações: palestra com o Grupo Amorim, ministrada no IFRS campus Bento Gonçalves

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Análise Sensorial IV - Chardonnay

 Mais uma degustação, desta vez de vinhos 100% Chardonnay.

1) Almadén, safra 2010, tampa screw cap, produzido e engarrafado em Santana do Livramento. A Almadén teve origem na Califórnia, em 1852  e desde 1973 tem sede no Brasil, na Campanha Gaúcha.


2) Los Nevados, safra 2008, rolha sintética, produzido em Mendoza, Argentina.


3) Miolo Reserva, safra 2009, rolha de cortiça, produzido com uvas da Campanha, uma parcela do vinho é fermentada em barricas de carvalho.


4) Lovara, safra 2010, rolha sintética. Produzido e engarrafado na Serra Gaúcha, rótulo muito expressivo, em aquarela.


5) Dádivas, safra 2010, rolha de cortiça, Lidio Carraro. Vinificado no Vale dos Vinhedos, com uvas de Encruzilhada do Sul.


quinta-feira, 7 de abril de 2011

Pássaro Negro (parte V)

         
                     Finalizando, com relação ao Merlot no mundo, o filme Sideways, de 2004, mostra dois amigos em uma jornada por vinícolas da Califórnia. Por algum motivo, não expresso no filme, o personagem Miles (Paul Giamatti) não gosta de vinho Merlot, preferindo Pinot Noir. No final do filme, depois de muitas decepções, ele resolve beber uma garrafa de um Chateau Cheval Blanc St. Emilion 1961 que guardava havia muito tempo, acompanhado de hambúrguer. Após o lançamento do filme, que ganhou o Oscar de melhor roteiro adaptado em 2005, as vendas de Merlot caíram bastante, enquanto as de Pinot Noir cresceram exponencialmente. Ainda percebe-se o ‘efeito Sideways’, mas o impacto negativo sobre os vinhos com a uva Merlot já foi quase esquecido.

(parte de trabalho apresentado na disciplina de Análise Sensorial III, para obter a bibliografia, deixe um comentário com e-mail)

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Pássaro Negro (parte IV)

          No Brasil, a cultivar Merlot adapta-se bem no Vale dos Vinhedos porque amadurece mais cedo que o Cabernet Sauvignon, portando corre menos riscos associados às chuvas no final do período de amadurecimento. Bons vinhos Merlot já estão sendo feitos nessa região. Apesar da tecnologia atual, que pode ajudar a acelerar esse processo, ainda levará tempo para que possamos afirmar com certeza que a Merlot é a melhor uva para o Vale dos Vinhedos. Talvez conclua-se que, devido a fatores climáticos, os melhores e mais consistentes produtos elaborados nessa região serão os vinhos espumantes. Só o tempo vai nos ajudar a desvendar esse mistério. Foram necessários vários séculos para que os monges da Idade Média se certificassem de que a Pinot Noir era realmente a melhor uva para a região da Borgonha.
          Frente à intenção do Vale dos Vinhedos de tornar-se uma região de Denominação de Origem Controlada (DOC) de uva Merlot, é importante que os produtores caminhem juntos, aprendendo com as experiências de países produtores como a França, que sente-se restringida pela legislação e gradualmente busca flexibilidade para conseguir competir. Também deve-se olhar para países como a Austrália, que possui leis mais flexíveis e hoje busca maneiras de demonstrar que seus vinhos podem ser diferentes e individuais. É necessário para o sucesso que todos os produtores da região estejam de acordo, o que na prática é muito difícil. Todos deverão concordar em reduzir a escala de produção para obter um produto de boa qualidade. No momento, a legislação da DOC Vale dos Vinhedos estipula um rendimento por hectare de 150 hectolitros. Na opinião de Dirceu Vianna Júnior, para se fazer um vinho de qualidade, o rendimento deveria ser reduzido para, no máximo, 60 hectolitros por hectare.
 
(trabalho apresentado na disciplina de Análise Sensorial III, para obter as bibliografias, deixe um comentário com e-mail que envio)

terça-feira, 5 de abril de 2011

Pássaro Negro (parte III)

          “O mundo está de braços abertos para o vinho brasileiro” diz Dirceu Vianna Júnior, único Master of Wine brasileiro, que coordenou uma degustação comparativa com vinhos da variedade Merlot de onze países. O estudo levou cerca de nove meses e foi conduzido em três partes.
          Primeiramente, foi feita uma comparação qualitativa entre vinhos brasileiros e vinhos da mesma variedade de 10 das principais regiões produtoras do mundo. Participaram desse projeto 40 degustadores europeus de alto padrão, incluindo vários jornalistas e 15 Masters of Wine. Paralelamente a esse estudo foi feita uma degustação com um painel de enólogos de várias partes do mundo e Masters of Wine para estabelecer o que deve ser feito tecnicamente para melhorar o nível de qualidade dos vinhos brasileiros. A terceira parte do projeto teve como objetivo principal estabelecer o nível de interesse do mercado internacional para com vinhos brasileiros. (fiz uma postagem na ocasião aqui)
          Por um lado, os resultados foram positivamente surpreendentes para os vinhos brasileiros: dos dez vinhos com melhores pontuações, oito são nacionais. É interessante salientar que entre os bons produtores brasileiros havia vinícolas renomadas, de grande porte, como também pequenos produtores. Isso parece indicar que, para fazer um bom vinho, o importante é a paixão, força de vontade, disciplina e atenção ao detalhes.
          Por outro lado, a maioria dos 10 últimos colocados também era de vinhos brasileiros, demonstrando que ainda existe muito trabalho para ser feito até que a região apresente uma certa consistência. A parte do estudo que tratou do lado técnico desvendou defeitos que devem ser corrigidos. Alguns deles são fáceis de corrigir, basta conhecimento. Outros necessitam de investimento de longo prazo, principalmente para melhorar as condições dos vinhedos.
          Finalmente, o estudo demonstrou que o consumidor internacional está receptivo aos vinhos brasileiros. Mais de 85% dos entrevistados disseram associar o Brasil a uma imagem positiva. Isso será uma grande vantagem na hora de fazer um trabalho de marketing do vinho brasileiro.
          Os dez melhores vinhos Merlot do mundo, de acordo com o resultado do trabalho realizado, são:
1. Miolo Merlot Terroir 2005 - Brasil
2. Thelema Merlot 2005 – África do Sul
3. Pizzato Single Vineyard Merlot 2005- Brasil
4. Vallontano Merlot Reserva 2005 - Brasil
5. Concha Y Toro Casillero del Diablo Merlot 2006 - Chile
6. Larentis Reserva Especial Merlot 2004 - Brasil
7. Don Laurindo Merlot Reserva 2005 - Brasil
8. Cavalleri Pecato Merlot Reserva 2005 - Brasil
9. Michelle Carraro Merlot 2005 - Brasil
10. Milantino Merlot Reserva 2004 – Brasil

(trabalho apresentado na disciplina de Análise Sensorial III, para obter a bibliografia faça um comentário com e-mail que envio)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Pássaro Negro (parte II)

          No Chile, o Merlot pode não ser autêntico. Muitos vinhos chilenos rotulados de Merlot revelaram-se, após testes científicos, como Carmenére, variedade que outrora foi bem conhecida em Bordeaux e que agora está, lá, praticamente extinta. Na região da Toscana, na Itália, o Merlot é usado em pequenas quantidades em cortes com a Sangiovese, para preparar o Chianti contemporâneo e também em quantidades restritas nos Supertoscanos. Ainda na Itália, na região de Tre Venezie (Friuli-Venezia Giulia, Alto Adige Trentino e Vêneto), o Merlot é a uva mais plantada, produzindo vinhos de qualidade variada.
          Os principais locais mundiais de cultivo são: nos Estados Unidos, a Califórnia, Long Island (NY), Virginia e Washington; no Chile; na França a região de Bordeaux e no Languedoc-Roussillion. Também há excelente qualidade na Nova Zelândia. 


          Na China, país com a maior população do planeta, o cultivo de uvas, inclusive da Merlot, já é uma realidade. O vinho é um dos símbolos da ocidentalização, e a taxa de consumo aumenta 15% ao ano. A primeira vinícola moderna em estilo ocidental foi estabelecida em 1980. 
          É uma variedade de excelente adaptação às condições de clima e solo do sul do Brasil. Seu vinho tinto é fino, de grande qualidade, favorecendo-se de um envelhecimento não muito prolongado. Nas condições da região Sul, a produtividade média deixa a desejar, pois os vinhedos, em sua maioria, sofrem com infestações virais. Está sendo estudado como o vinho fino típico do Brasil. É a variedade fina tinta mais cultivada no Rio Grande do Sul, com 30,58% de participação (dados de 2002).


          É característica dos países do Novo Mundo a opção pelos vinhos varietais. Cada país escolhe, de acordo com suas aptidões, sua cultivar emblemática. Malbec na Argentina, Carmenére no Chile, Tannat no Uruguai, Syrah na Austrália, Pinotage na África do Sul, Zinfandel na Nova Zelândia. No Brasil, a cultivar Merlot tem várias características que podem fazê-la a nossa uva emblemática. É perfeitamente adaptada ao clima, em função de sua maturação mais precoce. Tem resultado em excelentes vinhos, tanto no Rio Grande do Sul quanto em Santa Catarina.
 
(trabalho apresentado na disciplina de Análise Sensorial III, para obter a bibliografia, deixe um comentário que envio por e-mail)

domingo, 3 de abril de 2011

Pássaro Negro (parte I)


          A cultivar Vitis vinifera Merlot possui película tinta e sabor herbáceo. Nas condições da Serra Gaúcha brota entre 03 e 13 de agosto e amadurece entre 10 e 20 de fevereiro. Tem produtividade de cerca de 20 toneladas por hectare e teores de açúcar entre 17 e 19º Brix, e acidez total entre 90 e 110 meq/L. O cacho geralmente é alado, de tamanho médio, com bagas pequenas. É sensível à antracnose, altamente sensível ao oídio, moderadamente sensível ao míldio (mas muito sensível ao míldio no cacho) e resistente às podridões.
          O vinho Merlot, quando elaborado com uvas maduras, é redondo, aveludado, potente, rico em álcool e de coloração rubi-violácea intensa. Devido a sua constituição fenólica, pode ser fermentado e amadurecido em barricas de carvalho. É um vinho que pode ser consumido como varietal, puro, ou em cortes, principalmente com a Cabernet Sauvignon. Os principais descritores aromáticos são os frutais, como ameixa, cereja preta, framboesa, amora preta, cassis, cereja cozida e groselha. Nos vinhos mais complexos sentem-se aromas que lembram trufas, chocolate, café e couro. O fim de boca é longo e persistente.
           Como harmonização sugere-se, devido aos seus taninos robustos e equilibrados, a companhia de carnes, caças e aves mais consistentes. Harmonização com frango não é recomendada. Devido ao seu toque macio de açúcares remanescentes, e bom equilíbrio entre álcool e acidez, e taninos e antocianos presentes, acompanha bem carnes de porco, como lombinho e pernil, acompanhados por batatas cozidas ou aipim frito. Também combina com queijos amarelos.
          Com nome que significa ‘pássaro negro’, e considerada uma uva clássica e internacional, essa cultivar teve origem na França, na região de Bordeaux, onde é a principal em termos de valor histórico e em produção total. Sua capacidade de amadurecer bem mais precocemente que as demais a torna a uva mais cultivada nessa fria região. Tem capacidade de amadurecer bem nas safras frias e possui bom teor alcoólico nas safras quentes. A Merlot é a principal uva dos vinhos de Pomerol e St Émilion. Entretanto, são quase sempre feitos cortes com Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, entre outras. Uma famosa exceção extrema é o vinho de Pomerol Château Petrus, um dos mais caros vinhos do mundo, voluptoso e aveludado, que é 99% Merlot.

         
          Comparada com a Cabernet Sauvignon em Bordeaux e na Califórnia, costuma-se dizer que a Merlot é mais macia, mais carnuda e mais gorda. A maciez de um vinho é um fenômeno complexo, que depende de muitos fatores, entre eles o grau de amadurecimento da uva. Em vinhedos bem conduzidos, quando a uva Merlot amadurece plenamente, o tanino aparece como macio e redondo ao paladar. Há, sem dúvida, exemplos que não se encaixam neste caso, como os de regiões ao norte da Itália e do estado de Nova York (EUA), que tem um estilo de Merlot magro e liso. Em termos de Merlot nos Estados Unidos, destacam-se a Califórnia e o estado de Washington. Desta última região provem a cada ano mais vinhos excelentes e concentrados. 

(trabalho apresentado na disciplina de Análise Sensorial III, para obter as bibliografias, deixe um comentário com e-mail que envio)

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A marca 'Granja União' muda de mãos

          Às vésperas de completar 80 anos, a Cooperativa Vinícola Garibaldi confirma a compra dos direitos de produção e comercialização da histórica e conhecida marca Granja União, que estava sob domínio da Vinícola Cordelier (situada no Vale dos Vinhedos). O anúncio foi feito pelo presidente Oscar Ló na convenção de vendas, com representantes da Garibaldi de todo o Brasil para balanço e planejamento do ano de 2011. Hoje, a Garibaldi é referência de qualidade na elaboração de espumantes e suco de uva. "Vamos incrementar nosso portfólio de vinhos finos tendo a Granja União um dos carros-chefes", afirma Oscar Ló, sem revelar os números envolvidos na negociação. "Estamos investindo na tradição de uma marca afirmada e reconhecida, que ainda se mantém viva na memória das pessoas através de histórias contadas e passadas de pai para filho", recorda. A marca é lembrada pelo seu tradicional slogan: "Não arrisque. Na dúvida, escolha um Granja União".
          A Cooperativa Vinícola Garibaldi projeta dobrar sua venda de vinhos finos já em 2011, com a aquisição da marca Granja União. Em 2010, ela comercializou 280 mil garrafas de vinhos finos, acréscimo de 45% sobre 2009. "Este ano, só de Granja União queremos vender 300 mil garrafas", calcula o presidente Oscar Ló, que manterá os rótulos e a características dos vinhos Granja União, elaborados a partir das uvas Riesling, Malvasia, Merlot, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon e Tannat. "Só iremos acrescentar um moscatel e mudaremos o espumante brut", revela. A aquisição da marca é simbólica, no ano em que a Garibaldi completa oito décadas de existência, em 22 de janeiro. O rótulo Granja União surgiu no ano de seu nascimento, em 1931, elaborado pela Companhia Vinícola Riograndense, que anos depois tornou-se a principal concorrente da Garibaldi. A marca mudou o mercado e a concepção de vinhos no Brasil. "O rótulo Granja União foi o primeiro vinho varietal elaborado no país", lembra Oscar Ló.
          A Companhia Vinícola Riograndense, criadora da marca Granja União, comprada pela Cooperativa Vinícola Garibaldi, chegou a ter 25% da produção de vinhos do Rio Grande do Sul. Dois anos depois de sua criação, passou a importar mudas de parreira da Europa para desenvolver experimentos na Granja União, localizada em Flores da Cunha (onde atualmente é a sede da Luiz Argenta). O local funcionava como uma estação de aperfeiçoamento das videiras, com o objetivo de contribuir para eliminar vinhos de má qualidade e para disseminar a elaboração de vinhos com tecnologia adequada e sob controle. A marca Granja União foi a responsável pela definição das variedades viníferas mais conhecidas na Serra Gaúcha há até pouco tempo. Durante muitos anos, quando se falava em Riesling ou Cabernet, automaticamente associava-se o nome Granja União. O sucesso era tamanho, que as vendas tiveram que ser limitadas já que a produção era insuficiente para atender à demanda.

(fonte: Newsletter de Affonso Ritter)

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Bodega Ruca Malen - parte 1


Finalizando os relatos da viagem a Mendoza (estou quase viajando outra vez!), quero contar a vocês sobre a maravilhosa Bodega Ruca Malen. Tudo nela é poético e instigante, com uma energia fantástica. Começa com a origem do nome. Ruca Malen significa 'casa da mulher jovem'. É uma lenda do povo Mapuche, nativo da região de Mendoza, que conta que todos deviam andar de cabeça baixa, pois do contrário seriam punidos. Uma jovem corajosa um dia levantou a cabeça e vi seu deus. Apaixonaram-se. Ela deveria ser punida. Mas seu destino foi diferente. Seu deus a colocou em um lugar especial, Ruca Malen, e deu-lhe uma bebida para alegrar seus dias, vinho.  


Antes de visitar a vinícola, nos foi servido o primeiro passo do Aperitivo do Menu Degustação, salada de quinoa e limão, temperada com azeite de oliva Arbequina, acompanhada por chips de maçã caramelizados com creme de cítricos e cunha de maçã verde. Harmonizado com o vinho Yauquén Chardonnay 2009 (100% Chardonnay, sem passagem por barrica, sem fermentação maloláctica). Com esta harmonização destacou-se a fruta, a persistência e a acidez equilibrada do vinho através da frescura do creme de cítricos e da maçã.  


O 'recorrido' e os demais vinhos ficam para os próximos posts.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Luiz Argenta - parte 1

(foto do acervo pessoal de Francesca C. Maggioni Pastori, gentilmente cedida)

Em Flores da Cunha/RS, situa-se uma das mais modernas vinícolas do Brasil, a Luiz Argenta. Localizada na antiga propriedade da Granja União, onde em 1931 foram plantadas as primeiras uvas viníferas do Brasil, conta atualmente com 55 hectares de vinhedos. As plantas são conduzidas em espaldeira, com rendimento por planta limitado, para maximizar a qualidade da uva.

(foto do acervo pessoal de Francesca C. Maggioni Pastori, gentilmente cedida)

A vinícola possui equipamentos de alta tecnologia para a condução da vinificação, e foi projetada para trabalhar por gravidade. Isso significa mínima manipulação dos mostos e vinhos por bombas, preservando a integridade dos produtos.

(foto do acervo pessoal de Caline L. Rasador, gentilmente cedida)

A uva recém desengaçada cai nesse carrinho, que é conduzido para o tanque desejado, onde o mosto é colocado. Os tanques tem formato cônico, para otimizar o processo de remontagem. Para esse procedimento também é usado o carrinho, que recebe o mosto na abertura embaixo do tanque, é içado até a boca superior e escoa o líquido sobre a massa sólida de bagaço (cascas da uva). Assim as matérias corantes da casca são extraídas, fornecendo cor, taninos e polifenóis.

(foto Caren Muraro)

Na foto abaixo, a prensa pneumática está posicionada para a descuba (retirar o líquido das cascas). Em outras vinícolas essa operação requer o uso de bombas para a transferência, mas na Luiz Argenta a gravidade faz todo o trabalho.

 (foto do acervo pessoal de Caline L. Rasador , gentilmente cedida)

Abaixo temos uma ideia da altura necessária dos tanques para se trabalhar com gravidade. São 3 metros de altura. Na foto, o enólogo Edgar Scortegagna, super agasalhado no dia 13 de dezembro!

(foto do acervo pessoal de Caline L. Rasador , gentilmente cedida)

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Chianti contemporâneo


          Esse lindo ambiente pertence à Makrovision, loja de equipamentos de automação e home-theaters em Novo Hamburgo. Lá a COFEV reuniu-se para brindar em torno de um vinho italiano, o Chianti Gentilesco, safra 2008, da empresa Bonacchi. Trata-se de um Chianti contemporâneo, onde a uva Sangiovese é cortada com uvas internacionais, como a Merlot e a Cabernet Sauvignon.  


          Este vinho trata-se de um DOCG, que significa Denomizazione di Origine Controllata i Garantita. Existem 24 DOCG na Itália (dados de 2003). Essa denominação foi promulgada pelo governo italiano em 1980, englobando vinhos de melhor qualidade do que a DOC. A DOCG tem normas mais rígidas que a DOC. A palavra Garantita pode confundir os consumidores, pois não é a qualidade organoléptica que está garantida, e sim a obediência às normas da denominação de origem. O Chianti provem da Toscana, berço da uva Sangiovese, considerada a melhor uva da Itália. Tradicionalmente o Chianti era uma mistura de uvas tintas (Sangiovese e Canaiolo) e brancas (Malvasia e/ou Trebbiano). O objetivo de misturar uvas brancas era realçar a vivacidade, impulsionar o sabor e permitir que o vinho fosse bebido mais jovem. Isso popularizou ainda mais o Chianti, mas o corte com Trebbiano, uva neutra (usada na França para destilar e produzir cognac), desestruturou o vinho, tornando-o magro, vazio e desequilibrado. Por ocasião da II Guerra Mundial, cerca de 30% de alguns Chianti era da cultivar Trebbiano. Nessa época, devido a incentivos do governo para o desenvolvimento da agricultura, houve implantação de muitos novos vinhedos de Sangiovese, por toda a Toscana. No entanto, o clone disseminado foi inadequado, contribuindo para afetar a reputação do Chianti. No final da década de 1960, o vinho era mais conhecido pela garrafa de palha, o fiasco, do que pelo conteúdo. Atualmente, de acordo com a DOCG, o Chianti deve ter 75% de Sangiovese, até 10% de Canaiolo e os 15% restantes de outras uvas tintas, inclusive as internacionais Cabernet Sauvignon e Merlot, e passa de 6 a 8 meses em tonéis de carvalho. O resultado é um vinho fresco, frutado, ideal para acompanhar refeições.

Mapa daqui. Bibliografia consultada: A Bíblia do Vinho, Karen MacNeil, 2003.

        

domingo, 23 de maio de 2010

O Burro de São Martinho


                                           Muitas são as lendas que cercam a uva e o vinho. Algumas parecem bem plausíveis, como essa sobre as origens da poda seca.


                                           Conta-se que, nos idos de 345d.C., São Martinho inspecionava vinhedos que pertenciam a seu mosteiro, perto de Tours, no vale do Loire, na França. Ele cavalgava um burro, que foi amarrado junto a um renque de videiras. São Martinho saiu a pé e demorou muito tempo em seus afazeres vitivinícolas. Quando voltou descobriu, horrorizado, que o burrinho havia mascado as videiras e que algumas tinham sido danificadas até o tronco.
                                           No ano seguinte, para surpresa e alegria dos monges, as plantas que tinham sido estragadas pelo animal brotaram com vigor e deram excelente colheita. A lição foi bem aprendida pelos monges e passada adiante. Atualmente, a poda é rotina do vitivinicultor em todas as partes do mundo.  


Fonte: Vinho e Guerra, de Don e Petie Kladstrup, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2002

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Um breve histórico da viticultura na Campanha Gaúcha

                           A história da viticultura na Campanha Gaúcha remete ao início do século XIX, quando açorianos colonizaram a Ilha dos Marinheiros, em Rio Grande e trouxeram mudas da cultivar Vitis labrusca Isabel para cultivo doméstico. Ainda na primeira metade do século XIX, Thomas Messiter obteve mudas da mesma cultivar importadas dos Estados Unidos, para cultivo comercial. Na segunda metade do século XIX, colonos franceses se estabeleceram em Pelotas, cultivando grandes parreirais das cultivares Concord (muito usada em sucos) e Isabel. A partir da primeira metade do século XX, o cultivo de uvas entra em decadência na região.

                      Na década de 1970, o agronômo Onofre Pimentel começou a prospectar áreas propícias à produção de uvas viníferas naquela região, tida então como de limitada vocação vitícola. Onofre foi tido na época como um visionário, ousando garimpar terras para o cultivo da videira onde a maioria achava que elas não pudessem existir: para além da Serra Gaúcha.

                     A partir de estudos do Exército Brasileiro e de visitas frequentes à região, indicou o município de Pinheiro Machado para a implantação do vinhedo da Companhia Vinícola Riograndense. Ele também foi o primeiro a implantar vinhedos no sistema de condução em espaldeira, quebrando a ditadura do sistema latada. As primeiras variedades cultivadas foram Cabernet Franc, Riesling Itálico e Malvasia de Cândia, no vinhedo San Felício, que hoje pertence à empresa Terrasul, de Flores da Cunha.


                         Onofre Pimentel morreu em 2008, quando já se constatava o acerto de suas idéias inovadoras. Esse foi o ponto de partida para um quadro que hoje é de completo entusiasmo pelo terroir da Campanha Gaúcha. A presença da Almadén (recentemente adquirida pelo Miolo Wine Group) em Santana do Livramento na década de 1980, desencadeou o surgimento de vinhedos por toda a região.