segunda-feira, 31 de maio de 2010

Vírus do Enrolamento da Folha

                                Plantas da cv. Cabernet Sauvignon com sintomas do vírus do Enrolamento da Folha (Leafroll), na Granja do IF-RS, no distrito de Tuiuty em Bento Gonçalves/RS. Foto do dia 24 de maio de 2010. Pode ser identificado como doença e diferenciado de deficiência nutricional porque as nervuras da folha permanecem verdes. A dispersão dessa doença depende dos métodos de propagação da videira, que devem ser feitos com material vegetativo selecionado. Também pode ser propagado por vetores como cigarrinhas, cochonilhas e pulgões. As perdas causadas por essa virose são discretas no início e aumentam com o passar do tempo, podendo reduzir a colheita em até 20%. Pode causar atraso na maturação da uva em até 3 semanas, queda de cerca de três graus Brix na uva e redução drástica da produtividade. Afeta também a composição química do vinho e diminui sensivelmente a quantidade de matéria corante.


                               Nas videiras afetadas, as margens das folhas tendem a se enrolar para baixo, com a superfície enrugada e quebradiça, começando pelas folhas basais. As áreas entre as nervuras tornam-se amareladas nas cv. brancas e avermelhadas nas cv. tintas. As áreas adjacentes às nervuras permanecem verdes. Com o tempo, toda a videira fica amarelada ou avermelhada. Os sintomas não são distinguíveis durante a fase de dormência e início do ciclo vegetativo. Nos porta-enxertos não há sintomas, dificultando a identificação.   




Degustando Vinhos Portugueses

                               Quando a COFEV lançou o convite para a reunião do mês de maio com o tema 'Vinho Portugueses', minha ideia imediata foi de que seriam apresentados vinhos verdes. Ainda conheço pouco da vitivinicultura de Portugal, somente vinhos do Porto e vinhos verdes. Tive a grata surpresa de chegar na Adega Perbacco, local do encontro, e ver taças já servidas com vinhos tintos de cores intensas e surpreendentes.


                               Foram degustados cinco vinhos tintos, de diferentes regiões do país. A grande sensação da noite foi o 'Ensaios', vinificado por Filipa Pato, filha do grande produtor Luis Pato, que estreou em sua carreira solo com este vinho (daí o nome, que poderia se chamar Estreia!). Primeiro, por ter sido feito por uma mulher, afinal estávamos em uma confraria feminina. Mas o vinho revelou-se muito agradável de fato. Vamos então aos vinhos, na ordem em que estavam servidos:



1) Duorum Colheita 2007, das castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz. Vinho da região do Douro, proveniente de solos xistosos, maturado em carvalho francês, com pequena percentagem em carvalho americano, por cerca de seis meses. Teor alcoolico 13,5% v/v. Linda cor vermelho rubi profunda, aroma de pequenas frutas maduras e especiarias. Na boca, acidez equilibrada, taninos dóceis, elegante, com fim-de-boca persistente. 

2) Dão Quinta do Penedo Tinto 2005, das castas Touriga Nacional e Alfrocheiro. Vinho da região do Dão, proveniente de solos graníticos, com passagem por barricas de carvalho francês e americano. Teor alcoolico  12,5% v/v. Cor vermelho rubi intensa. Aroma floral bem marcado da Touriga Nacional e de resinas. Na boca, estruturado, acidez equilibrada, bom volume de boca, persistente.

3) Ensaios Tinto 2007, das castas Touriga Nacional, Jaen, Baga. Vinho das regiões da Bairrada e do Dão. Teor alcoolico 13% v/v. Coloração amora com reflexos violáceos. Aroma de violetas e pinheiro dados pela Touriga Nacional e de frutos silvestres dados pela Jaen e Baga. Na boca apresenta acidez equilibrada, taninos macios, elegância e persistência. 

4) Quinta da Cortezia Tinto Reserva 2004, das castas Touriga Nacional e Tinta Roriz. Vinho da região da Estremadura. Teor alcoolico 14%v/v. Os vinhos varietais estagiam em barricas de carvalho francês por 7 meses, após esse tempo é feito o corte nas proporções ideais. O corte estagia por mais 4 meses nas mesmas barricas. É apenas levemente filtrado e, após engarrafado, ficando em estiva nas caves por mais 4 meses antes de ser comercializado. Cor rubi com reflexos castanhos, aroma intenso de violetas, frutas maduras, baunilha, todos muito bem entrosados. Macio na boca, complexo, cremoso, elegante, persistente. O melhor vinho da noite.

5) Marquês de Borba Tinto 2008, das castas Aragonês, Trincadeira, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon. Vinho da região do Alentejo, proveniente de solos argilo-calcários e xistosos. Teor alcoolico de 14% v/v. Coloração vermelho rubi, aromas intensos e concentrados, boca com taninos quase verdes de madeira, lembra vinhos do Novo Mundo, para mim perdeu a característica européia de vinho gastronômico.



                               Após a degustação, saboreamos um delicioso Bacalhau à Gomes de Sá, que harmonizou com perfeição com os vinhos 3 e 4. De sobremesa, pastéis de Belém com vinho madeira. Na foto acima o palestrante Leandro Lombardo, enófilo, e a Rosely, presidente da Confraria.

domingo, 23 de maio de 2010

O Burro de São Martinho


                                           Muitas são as lendas que cercam a uva e o vinho. Algumas parecem bem plausíveis, como essa sobre as origens da poda seca.


                                           Conta-se que, nos idos de 345d.C., São Martinho inspecionava vinhedos que pertenciam a seu mosteiro, perto de Tours, no vale do Loire, na França. Ele cavalgava um burro, que foi amarrado junto a um renque de videiras. São Martinho saiu a pé e demorou muito tempo em seus afazeres vitivinícolas. Quando voltou descobriu, horrorizado, que o burrinho havia mascado as videiras e que algumas tinham sido danificadas até o tronco.
                                           No ano seguinte, para surpresa e alegria dos monges, as plantas que tinham sido estragadas pelo animal brotaram com vigor e deram excelente colheita. A lição foi bem aprendida pelos monges e passada adiante. Atualmente, a poda é rotina do vitivinicultor em todas as partes do mundo.  


Fonte: Vinho e Guerra, de Don e Petie Kladstrup, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2002

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Vindima em aquarela




Carol Gillott é uma fotógrafa e pintora americana apaixonada por Paris e pela França em geral. Essas são algumas de suas aquarelas, representando a vindima em várias regiões. Veja o post completo aqui. 




terça-feira, 18 de maio de 2010

Filoxera

                             A filoxera (Daktulosphaira vitifoliae) é um tipo de pulgão originário dos Estados Unidos, que hoje encontra-se disseminado por todas as regiões vitícolas do mundo, com exceção do Chile. As videiras da espécie Vitis labrusca são, em geral, resistentes a esta praga. Em função disso, no século XIX, quando foram exportadas dos Estados Unidos para a Europa mudas de variedades resistentes à filoxera, houve a contaminação dos vinhedos de cultivares Vitis vinifera, que são susceptíveis. O inseto passa uma parte de seu ciclo vital no solo, parasitando as raízes da videira. Isso leva à morte das videiras por inanição, pois a filoxera forma nodosidades chamadas galhas nas raízes, onde alojam-se muitos indivíduos, que se nutrem desse tecido radicular modificado. Em alguns anos as plantas definham e morrem.
                            Na época da infestação na Europa, as videiras eram plantadas em pé-franco. Isso significa que a raiz é da mesma espécie que a copa, a parte produtiva. Galhos retirados das copas e simplesmente enfiados na terra produzem uma muda nova. Daí a susceptibilidade a esta praga. Para solucionar este problema e propagar as cultivares de Vitis vinifera pelo mundo afora (nos Estados Unidos dessa época os cultivos comerciais eram de variedades Vitis labrusca), foi desenvolvida a técnica de enxertia da videira. Os porta-enxertos são de outras espécies de Vitis, que tem resistência à filoxera e outras doenças. A copa é a parte que frutifica, com as características da cultivar escolhida. 
                           Quando a filoxera atinge a parte aérea da planta, causa prejuízos apenas se a infestação for muito grande, reduzindo a área foliar fotossintetizante. Nas fotos a seguir, vemos algumas folhas infestadas pela filoxera, com a formação das galhas. Fotos do dia 01/05/2010, de um vinhedo da cultivar Moscato Giallo sobre o porta-enxerto 1103 Paulsen, localizado no Travessão Felisberto da Silva, em Flores da Cunha/RS. Neste caso, como o porta-enxerto é resistente à filoxera, a infestação nas folhas será combatida com o uso de inseticidas, sem maiores prejuízos ao viticultor. 




quinta-feira, 13 de maio de 2010

Vime, tradição para amarrar parreiras

                      Meu grupo de trabalho usou amarrilhos plásticos no experimento de época de poda x época de brotação. O ideal são alternativas biodegradáveis, como o amarrilho ecológico, de papel e arame fino. A forma mais usual nas regiões tradicionais vitícolas é amarrar com vime.

                            O vime (Salix sp.) é um arbusto que dá galhos longos e flexíveis, que ficam firmes ao secar. Cresce bem em banhados.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Calagem na Granja do IF-RS

                          Enquanto podávamos o vinhedo de Chardonnay para nosso experimento, os funcionários da Granja-Escola do Instituto Federal do Rio Grande do Sul, Campus Bento Gonçalves, realizavam a calagem da área. Com altíssima tecnologia...



A calagem é necessária para ajustar o pH do solo ao ideal para o cultivo da videira, que é 6,0.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Análise Sensorial

                         As aulas de Análise Sensorial II, com o professor Juliano Garavaglia, são práticas em sua maioria. Até porque só se aprende a degustar, degustando! Não há outra maneira, é provar, provar e provar. Aqui mostro a cabine individual de degustação do Laboratório de Análise Sensorial, com luminária e pia para cuspir (estamos em aula...).


 O vinho nesta taça é o Aurora Reserva Chardonnay 2009.


Nesta aula também degustamos:


Aurora Reserva Cabernet Sauvignon 2008.



Casa Valduga Premium Merlot 2006





Mundus Cabernet Sauvignon 2005 (Vale del Maipo, Chile)


                                         Os vinhos degustados em aula são gentilmente cedidos pelas vinícolas nacionais e, no caso de vinhos estrangeiros geralmente são descaminhos apreendidos pela Receita Federal, que os repassa para a escola, que é um Instituto Federal.

domingo, 9 de maio de 2010

Influência da época de poda sobre a época de brotação na cv. Chardonnay

                            Estamos realizando um experimento na granja da escola, da disciplina de Manejo da Videira com o professor Anderson De Césaro. Uma parte do vinhedo de Chardonnay, conduzido em sistema espaldeira, será tratada com diferentes épocas e sistemas  de poda, para avaliarmos se a época de brotação é influenciada. Aqui mostro algumas fotos do 'antes e depois' da primeira fase do trabalho, realizada no dia 03/05. A granja do IF-RS está situada em Tuiuty, município de Bento Gonçalves.


Uma planta antes da poda.



Poda seca em sistema cordão de Royat (cordão esporonado).


Poda seca no sistema Guyot (vara e esporão).



A tesoura poderosa da minha colega Fernanda, que conseguiu cortar a madeira velha.

sábado, 8 de maio de 2010

Enxertia Verde


                               Aqui o viticultor resolveu cortar as copas de Cabernet Sauvignon deixar o cavalo 1103 Paulsen livre para enxertar a copa da cv. Bordô. Técnica de enxertia em verde, realizada no verão. Fotos do dia 01/05/2010. Vinhedo no Travessão Felisberto da Silva, em Flores da Cunha/RS.


sexta-feira, 7 de maio de 2010

Condução unilateral cv. Bordô


                               Na mesma propriedade, no Travessão Felisberto da Silva, em Flores da Cunha/RS, vinhedo da cv. Bordô, no segundo ano após a implantação. Condução em latada, unilateral. Na próxima época de poda, será realizada poda mista (varas de produção e esporões).





quinta-feira, 6 de maio de 2010

Vinhos da Campanha Gaúcha na COFEV

A reunião de abril da Confraria Feminina do Espumante e do Vinho do Vale do Sinos (COFEV) foi um sucesso! Confira clicando clicando aqui e aqui.




Viveiro de porta-enxerto


                                Mangueira de irrigação em viveiro de mudas do porta-enxerto 1103 Paulsen, no Travessão Felisberto da Silva, em Flores da Cunha/RS. A mangueira é instalada por baixo do plástico preto. Espaçamento entre estacas 10 x 10 cm, em duas fileiras.


quarta-feira, 5 de maio de 2010

Moscato de Alexandria

Cultivar Moscato de Alexandria conduzida em 'Y', unilateral, cultivo protegido.

Repare aqui abaixo a emissão de raízes, devido à excessiva umidade da safra 2010.


Ótima sanidade das plantas em cultivo protegido. Vale o investimento!

terça-feira, 4 de maio de 2010

Cultivo Protegido


Fotos de parreiral da cv. Moscato Giallo conduzido em sistema 'Y', no travessão Felisberto da Silva, em Flores da Cunha/RS


Aqui a cordoalha de 3 fios, que é instalada a cada 3 metros.


Vista lateral da cobertura, com o fio especial trançado, para dar mais segurança contra ventos.


Cordoalha de 7 fios, que 'amarra' as extremidades.


Detalhe da amarração.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Um breve histórico da viticultura na Campanha Gaúcha

                           A história da viticultura na Campanha Gaúcha remete ao início do século XIX, quando açorianos colonizaram a Ilha dos Marinheiros, em Rio Grande e trouxeram mudas da cultivar Vitis labrusca Isabel para cultivo doméstico. Ainda na primeira metade do século XIX, Thomas Messiter obteve mudas da mesma cultivar importadas dos Estados Unidos, para cultivo comercial. Na segunda metade do século XIX, colonos franceses se estabeleceram em Pelotas, cultivando grandes parreirais das cultivares Concord (muito usada em sucos) e Isabel. A partir da primeira metade do século XX, o cultivo de uvas entra em decadência na região.

                      Na década de 1970, o agronômo Onofre Pimentel começou a prospectar áreas propícias à produção de uvas viníferas naquela região, tida então como de limitada vocação vitícola. Onofre foi tido na época como um visionário, ousando garimpar terras para o cultivo da videira onde a maioria achava que elas não pudessem existir: para além da Serra Gaúcha.

                     A partir de estudos do Exército Brasileiro e de visitas frequentes à região, indicou o município de Pinheiro Machado para a implantação do vinhedo da Companhia Vinícola Riograndense. Ele também foi o primeiro a implantar vinhedos no sistema de condução em espaldeira, quebrando a ditadura do sistema latada. As primeiras variedades cultivadas foram Cabernet Franc, Riesling Itálico e Malvasia de Cândia, no vinhedo San Felício, que hoje pertence à empresa Terrasul, de Flores da Cunha.


                         Onofre Pimentel morreu em 2008, quando já se constatava o acerto de suas idéias inovadoras. Esse foi o ponto de partida para um quadro que hoje é de completo entusiasmo pelo terroir da Campanha Gaúcha. A presença da Almadén (recentemente adquirida pelo Miolo Wine Group) em Santana do Livramento na década de 1980, desencadeou o surgimento de vinhedos por toda a região.
  

domingo, 2 de maio de 2010

"Degustando Vinhos da Campanha Gaúcha", parte dois


                        Olá! De volta, para contar para vocês sobre os vinhos da região da Campanha degustados na reunião da COFEV de 28/04/2010. Como já escrevi, as confreiras foram recepcionadas com o Espumante Brut Terrasul.



                       Escolhi este espumante porque ele é feito justamente de uvas provenientes do primeiro vinhedo comercial de uvas Vitis vinifera cultivado na região, o Vinhedo San Felício, na cidade de Pinheiro Machado. As variedades de uva utilizadas são Chardonnay, Riesling Itálico e Cabernet Franc (tinta vinificada em branco, leia mais detalhes clicando aqui). A tomada de espuma (formação do gás) é feita pelo processo Charmat (segunda fermentação em tanques). Tem uma coloração amarelo palha, clara, brilhante e possui perlage (borbulhas) miúda. No nariz tem aroma de flores e frutas. Encorpado ao paladar, tem boa persistência e acidez elegante e agradável. Possui 11,4% v/v de teor alcoólico.


                    Passamos para o segundo vinho: Miolo Fortaleza do Seival Viognier, safra 2008. Tem uma coloração amarelo palha com reflexos esverdeados, límpido e brilhante. No nariz os aromas são de flores brancas, jasmim, flor de laranjeira, mel, abacaxi, damasco, pera. Na boca, a nota de mel é intensa, com acidez equilibrada e agradável. O teor de álcool é de 14% v/v, mas não é sentido como agressivo.



                     Terceiro vinho: Dom Pedrito Pinotage/Tannat, safra 2008. Linda cor rubi, intensa, brilhante e límpida. No nariz possui aromas complexos de frutas vermelhas maduras e balsâmicos (eucalipto, muito interessante). Na boca mostra-se com ataque tânico, bom corpo, persistente e agradável. teor de álcool 13,5% v/v. Na minha opinião foi o que melhor harmonizou com o carreteiro servido a seguir.


                         Último vinho: Aliança Santa Colina Tannat Premium, safra 2007. Coloração vermelho rubi com reflexos castanhos, concentrada, brilhante. No nariz a primeira impressão foi de carvalho, agressivo, com um quê de poeira, terra solta. Abriu o aroma depois de muitos minutos no copo. É um vinho que poderia ter sido decantado. Na boca tem adstringência intensa, é encorpado e persistente. Teor alcoólico de 13% v/v.


Saúde!